[RESENHA] Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro

Publicado: 21/10/2010 em Cinema, Lançamentos & Recomendações, Política, Resenhas

É possível que a sequência de um filme use os mesmos elementos do primeiro e ainda assim seja totalmente diferente do primeiro? O Diretor da série Tropa de Elite, José Padilha, mostra que sim. Tropa de Elite 2 consegue ser ainda melhor que o primeiro, pois agora mostra uma visão ampla das favelas do Rio de Janeiro. Antes, a visão era a dos peões em um jogo de xadrez: frente de batalha.

Como o próprio Capitão Nascimento fala durante sua narrativa, trata-se de uma guerra, e nesse caso, Padilha acerta em cheio ao escolher construir um cenário mais complexo e completo. O filme mostra a participação que cada setor da sociedade carioca tem na construção do cenário que o Rio é hoje. Existiram boatos de que nos bastidores, houve pressão para que o filme fosse lançado após o primeiro turno das eleições, pois temia-se que atrapalhasse a candidatura do governador, que aliás, tem sua caricatura presente no filme. O Diretor José Padilha nega, argumentando que o filme foi lançado às vésperas do segundo turno, numa tentativa de forçar a discussão sobre segurança pública no plano nacional, envolvendo os dois candidatos.

Tropa de Elite 2 é diferente do primeiro justamente porque a trama desenvolve-se nos bastidores. O Bope em ação fica em segundo plano, mas quando aparece, é com a mesma impetuosidade de antes. As cenas de ação foram bem feitas e a montagem ajuda. É necessário dizer que a qualidade sonora aumentou, e agora, é possível distinguir sons, sem ter a sensação de que existem ruídos embolados. O filme custou aproximadamente R$ 15 milhões, e fica a sensação de que cada centavo usado foi muito bem gasto. Para que esse investimento não fosse por água abaixo, foi montado um esquema de segurança, para evitar que se repetisse o vazamento das imagens como no primeiro longa.

O protagonista e narrador Capitão Nascimento está mais velho, maduro e vestido com os trajes de um herói grego. Agora suas feridas internas ficam em maior evidência, e a história caminha a passos largos durante o filme para um final infeliz, pois sofre derrotas atrás de derrotas. Perde o posto no comando do Bope, mas por uma circunstância vira sub-secretário de inteligência, quando também não consegue ser ouvido. Seu filho fica cada vez mais distante, e sua ex-mulher casa-se com seu maior crítico. Aliás, Padilha usa esse paralelo para mostrar duas frentes de batalha pela derrota do mesmo inimigo, a diferença de métodos e princípios e o objetivo em comum.

Os bordões que ajudaram a contruir a identidade do primeiro filme junto ao público, não aparecem nesse filme, mas surgem novos, apresentados por um personagem remanescente do primeiro, Fábio, que é candidato a ser lembrando por frases como “tá de pombagirice?”, “cada cachorro que lamba sua caceta” e “quer me foder, me beija”. A diversão está garantida, e o filme vale o ingresso.

Tropa 2 tem tiros, favelas, bordões, festa e drama, os mesmos ingredientes do primeiro, apresentados de outro ângulo, com outro propósito. Por isso, não é contraditório dizer que é igual, mesmo sendo diferente.

comentários
  1. Fernando Luz disse:

    Filme sensacional. E texto muito bom também. Parabéns! 🙂

    Elogio de redator tem peso diferenciado! Valeu Fernando! Grande abraço!

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